Dezembro, décimo terceiro, planejamento,
lista, família, porteiro, manicure, fisioterapeuta, médico, gerente, shopping,
Saara, fila, cansaço, presentes, cartão de credito, duvidas, sacolas, fita,
papel, Papai Noel, suor, trópicos, faxina, guirlanda, anjos, Jesus, presépio,
árvore, neve “fake”, mofo, tradição, cardápio, mercado, preço, peru recheado, lombinho
com mel, avelãs, tâmaras, salada verde, guaraná zero, dieta, pavê, culpa, vinho
tinto, champanhe, desperdício, véspera, gelo, faqueiro de prata, taça de
cristal, toalha de linho, louça inglesa, vela aromática, antecedência, flores, embrulhos,
insônia, ufa!
Caduquices Hodiernas
Histórias de hoje, com pitadas de maturidade e gotas de humor.
26 de dez. de 2013
13 de dez. de 2013
Fora do lugar
Da confortável poltrona do saguão do grande shopping a senhora observa a
vitrine da ótica. Centenas de armações perfiladas como soldados em uma parada
militar, similares, salvo pequenos detalhes. A cada um ou dois segundos humanos
surgem no seu campo de visão, ela está de costas para o tumultuado corredor e
faz anotações em um pequeno caderno espiral. Um menino entediado balança uma
sacola de presente; decerto a compra do carrinho tão sonhado foi mais uma vez
adiada em favor da festa de aniversário daquele chato colega do colégio. Um
bebê dorme profundamente em meio ao intenso burburinho, deve estar guardando
toda sua revolta para usar na adolescência. Dois negros retintos, quase azuis,
daquele tipo longilíneo que só se encontra na África, atravessam sua frente,
tão rápidos quanto duas gazelas na savana.
Nossos filhos
Como seus pais, os filhos de hoje nunca serão. Não os vejo a massa
homogênea sugerida pela letra da balada, documento ou lamento de uma geração
revolucionária composta por Belchior. Na letra ele canta com vigor seus ideais
e fala das suas frustradas expectativas sobre a relação entre filhos e pais. O
hiato comum entre as gerações nunca se fez tão marcante como nas ultimas
décadas. Não criamos nossos filhos como fomos criados, nem tampouco nossos
netos são educados nos moldes em que ensinamos nossos filhos. Esse é um sinal
característico da velocidade do conhecimento, do avanço tecnológico nos
impulsionando em disparada para o futuro.
17 de set. de 2013
De volta
Depois de merecidas férias, matando a
saudade dos netinhos, retorno aos meus escritos. Nesse tempo mágico dei um gelo
no notebook, encarei com disposição os games do X Box e penteei muitas Barbies.
Será que as palavras ainda se lembram de mim?
25 de jul. de 2013
Ponto de vista
Ao alcance da mão na tela do computador as notícias frescas do Brasil. O
olhar longínquo vindo do outro hemisfério revela-se perplexo diante da
realidade.
Na primeira tela abro o vídeo de abertura da Jornada Mundial da
Juventude. Dom Orani Tempesta, o Arcebispo da cidade, com suas simpáticas
bochechas, hoje mais solenes, convoca os jovens do mundo inteiro a orar. Um
milhão de pessoas acompanham a Missa de Acolhimento realizada no palco
faraônico montado na Praia de Copacabana. Os cânticos aceleram o coração da
massa. Nem a chuva, nem o vento esmorece o entusiasmo dos devotos fiéis.
Na próxima tela, outro vídeo mostra mais um confronto oriundo da
manifestação de desagravo do povo brasileiro contra o Governo. A Polícia
Militar e cerca de trezentas pessoas se enfrentam próximo ao Palácio Guanabara,
local de trabalho do governador do Rio de Janeiro, bola da vez na mira dos
revoltados. Nem as balas de borracha, nem os jatos d’água acalmam os ânimos
exaltados dos rebeldes mascarados.
12 de jul. de 2013
Desafios
Eu faço
versos como quem
Dirige em
terra estrangeira.
A imagem
turva da estrada limpa
Suja a
estrofe trôpega que
Congela a
alma.
Sem noção
de espaço sigo
Alheia a
próxima curva.
Eu faço
versos como quem
Não sabe
aonde vai, mas insiste.
A procura do
dito certo, da inusitada rima
Sela o
destino torto que
Asfixia o
corpo
A brusca
freada desacelera
O verso aqui, já sem sentido.
24 de jun. de 2013
A hora é essa!
Quem atua nos três poderes e quais suas
atribuições?
Quantos impostos existem e a quem compete sua arrecadação?
Sabemos
as respostas dessas perguntas básicas?
Reclamar só não basta; é impossível
ter nosso desejo satisfeito se não sabemos a quem e nem como pedir. Não vamos
nos contentar com a eficiência; temos que ser eficazes. Aprender como funciona
a máquina administrativa, econômica e eleitoral que tanto condenamos é nosso
dever de casa. Assim podemos acompanhar o movimento dos nossos governantes e
reivindicar nossos direitos com objetividade. Há muitos sites públicos onde
podemos nos informar e vários movimentos privados aos quais podemos nos filiar.
Mas ao mesmo tempo em que cobrarmos um direito não contemplado, temos que examinar
nossa consciência a procura de algum dever não cumprido. Não será o dinheiro
público mal administrado e o desperdício generalizado do bem comum apenas um
reflexo aumentado da nossa economia doméstica, igualmente impulsionada pelo
nosso consumo desenfreado? Instituir uma boa gestão pode começar com o respeito
aos limites do nosso cartão de crédito.
Deixar de subornar o guarda de transito da esquina é certamente o
primeiro passo para a extinção da corrupção institucional.
A hora é essa: cante na íntegra o
Hino Nacional Brasileiro!
18 de jun. de 2013
Brasil em marcha
Distante no espaço, mas não no tempo, acompanho pela internet as simultâneas manifestações do povo brasileiro e sua repercussão ao redor do mundo. Diante do tanto que já foi redigido pela imprensa e relatado nas redes sociais, sobra pouco a dizer. Resta-me apenas a jornada detetivesca à procura da verdadeira motivação. Certo é que os superfaturados vinte centavos passam longe de ser o estopim dos protestos. Podemos acreditar no tão esperado despertar do gigante adormecido ou apenas apostar nossas fichas num fenômeno natural como o degelo que de tempos em tempos mostra a sua força. O fato é que não há uma explicação plausível para os últimos acontecimentos. Prefiro então creditar a onda de solidariedade à nossa afetiva alma. Estar com o outro, pelo outro, no outro, por inteiro, apenas isso, melhor dizendo, tudo isso. Olhar na mesma direção, com o mesmo propósito, dando o seu maior comprometimento. Mesmo não comungando a mesma ideia ou opinião, reconhecer o mesmo sentimento e intenção. Ouço as confusas palavras de ordem, vejo o balé desarticulado de policiais e manifestantes, quase cheiro o gás lacrimogêneo e sigo extasiada. Uns, com o coração em festa típico da juventude, adicionam mais um programa a sua agenda já cheia de eventos. Outros assinam sua longeva presença na talvez última oportunidade de participar da comoção popular. Alguns solitários aconchegam-se no gigantesco abraço da multidão. Vários engajados por vocação ensaiam tímidas lideranças e orientação. Muitos enganam a si próprios com equivocados argumentos, vítimas inocentes da desinformação, poucos sabem com certeza porque lá estão e enumeram com clareza suas justas reivindicações. Mas todos, incansáveis e resolutos, continuam a indefinida marcha. Esse é o poder da empatia.
27 de mai. de 2013
Era uma vez... 2012
Capítulo I – O mundo em ebulição
Edição 164 – ano 14 – número 11 – novembro de 2011
Osama Bin Laden foi assassinado por tropas americanas no
Paquistão. O Iraque, livre dos americanos, foi eleito para a presidência da
OPEP, para incentivar sua produção de petróleo. O rei do Marrocos antecipou-se
à revolução resguardando seu poder com algumas reformas. Na Líbia a sangrenta
revolta civil captura e mata Muamar Kadafi depois de 42 anos de regime. A
oposição a Assad na Síria é apoiada pela Turquia, que serve de exemplo para os
países da região. A população do Egito, assiste à renuncia de Hosni Mubarak
depois de três décadas de governo. Na Tunísia, os cidadãos empurram Ben Ali
para fora do governo. China, Irã e Rússia formam uma aliança contra a liga
formada por EUA, Israel e Arábia Saudita. O movimento Primavera Árabe
transforma o perfil da região, que toma o rumo da democracia. Na Europa, a
crise econômica se agrava com a ameaça de calote da Grécia. A Standard &
Poor rebaixa as notas dos países da zona do Euro que temem a chegada de uma onda
de imigrantes ilegais. A violência toma Londres de assalto, sem motivo
aparente. Na Noruega, um extremista massacra 77 pessoas em duplo atentado.
Michelle Bachelet diz que o PIB global é dez vezes maior que em 1960, mas 75%
da população mundial não está coberta pelo seguro social. Na Rússia, o maior
protesto depois da Perestroika acusa fraude nas eleições Ao redor do mundo
milhares de pessoas seguem o movimento “Ocupem Wall Street” de Nova York contra
o sistema capitalista. Na África, pescadores da Somália combatem os navios
pesqueiros da Espanha. Os chineses alugam terras na Argentina para plantação de
milho e soja e exportam produtos tecnológicos e industrializados. As
exportações da China cresceram 12 vezes em uma década e o fantasma da economia
extrativa ronda a América Latina. A corrente migratória traz de volta os
emigrantes dos países emergentes. Esse mundo vai acabar em 21 de dezembro de
2012?
Beatriz Lemos Maia
Editora Executiva
Este
é o editorial da revista Pandora, publicado no dia 5 de novembro de 2011. Você
sabe o
que fez nesse dia? Estamos na Lagoa Rodrigo de Freitas no Rio de Janeiro. Se
ainda não conhece o lugar, vale a pena fazer uma visita. A imagem de
pedra-sabão do Cristo Redentor, que completou 80 anos no mês passado, pode ser
vista de ângulos inusitados. De pertinho quase dá para sentir seu sopro
benfazejo; de longe, para os céticos, apenas um adorno de bom gosto. Aproveite
para dar uma volta de pedalinho, medite sossegado debaixo de um fícus, se esse
for o seu estilo, ou traga seu cachorrinho para uma festa de aniversário no
“Parcão”. Qualquer coisa o fará feliz neste cenário. O
asteroide 2005 YU55 passará daqui a três dias a 323 mil quilômetros da Terra.
Ele tem 400 metros de diâmetro e o melhor ponto de observação será o oeste
africano. Ele é composto de minerais à base de carbono, muito escuro, difícil
de observar. Caso atinja a Terra, abrirá uma cratera de 500 metros de
profundidade e 8 quilômetros de largura. São sete horas da manhã e é nisso que pensa Beatriz. Ela hoje testa seu tênis
novo na caminhada cronometrada que faz de segunda a sexta feira pela manhã com
seu preparador físico, o Paulão. Está com sobrepeso, disse a médica, mas ela se
sente obesa. Neste dia, especialmente resolutas, ela e as passadas consumiram
duas horas no percurso de 7,5 km, uma volta completa na Lagoa.
—
Beatriz, como
você progrediu! Acho que já posso incluir a corrida em seu programa. Ela,
bufando com o rosto coberto por abomináveis placas vermelhas aleatoriamente
distribuídas, banhada do suor que tanto odeia, sorri maravilhada com seu
desempenho.